terça-feira, 10 de setembro de 2013

Quase

   
      Hoje não tem você. Tem janela aberta e sol na varanda, tem coisa nova na caixa de correio, tem gente me ligando por engano, tem gelatina de limão na geladeira e minha avó cantando uma ciranda. Tem Caetano no vizinho, Leminski na cabeceira e rosa nova no meu canteiro. Seria mais um dia comum se não fosse o nascimento da flor.
      Na minha vida, setembro só chega quando alguma coisa começa a florir e isso não tem nada a ver com "dar certo", tem a ver com acontecer, brotar, germinar. Tem a ver com sorrir para desconhecidos, podendo ser um último gesto de afeto. Com ir ao cinema sozinho e enfrentar a solidão de tanta gente acompanhada. Tem a ver com a beleza de toda história mal contada.
      Para não dizer que eu só falei das flores, falei também das coisas que inquietam o coração, este que deixou de ser só um órgão para acumular funções. Por que não deixá-lo bater à vontade? Bater com vontade, te arrebentar a cara. Às vezes dói, mas logo passa, como o mês de agosto. E isso não tem nada a ver com você, é coisa minha, coisa que você não é.
      Hoje tenho paz no meu quintal e quiçá um tanto de fé. Tenho um filme francês, tenho bolo com café. Tenho rimas prontas, tenho tinta e papel... Mas ainda falta alguma coisa.
   
   
     
   

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